sábado, 4 de junho de 2011

O mundo é plural e diverso


O mundo é plural e diverso, não existe a receita perfeita nem a verdade absoluta nessa nossa curta vida. Todos nós sabemos que não
é diferente no mundo sadomasoquista.  Sem qualquer pretensãode completeza e sem, tampouco, ter a ingenuidade de esgotar um assunto tão complexo e multifacetado,eu, com mãos rudes, que mais lideram com as rédeas das praticas e vivencias BDSM do que no trabalho de  buscar explicações filosóficas do porque sou o que sou , arrisco-me a percorrer o vasto e controverso caminho do sodamasoquismo psicológico que em muitas ocasiões é vitima de muito preconceito entre os praticantes de BDSM.
Quero explicar o porquê do titulo deste texto ser “Sadomasoquismo Psicológico” e não “Dominação Psicológica”. Prefiro chamar de sadomasoquismo psicológico e não dominação psicológica, porque acredito que a relação exige o envolvimento consciente e inteligente tanto do dominador como da submissa. O desafio da relação SM psicológica  é o de desenvolver sintonia da submissão com a dominação  não como submissão inconsciente , mas de ser capaz de comungar com o sentido e o propósito da relação que exige da submissa o esvaziamento de si. Estar fora de si e centrado no dominador, eis o enfoque essencial da submissão, portanto, trata-se do esquecimento de si e a elevação do dominador. Quanto mais a submissa sai de si  mais ela estará na vontade do dominador e a vontade do dominador passará ser a dela, nessa simbiose eles se  encontram. O esvaziamento de si, cria espaço para abrigar a vontade do dominador. A submissa sai da sua realidade e entra na realidade do dominador. A entrega consciente da submissa  não significa que ela está vendo  tudo claramente , não significa realizar seus desejos;  mas significa dizer que conscientemente ela esvazia-se de si, renuncia a si mesma para viver o frenesi das sensações que embriagam sua alma,    para buscar o objetivo final de sua vida; que quer o remédio que aplaca suas  ânsias na busca da realização do seu eu e não apenas o cumprimento do que dizem as convenções sociais e morais.
A dominação psicológica pensa e se esforça para trabalhar astuciosamente corpo, coração e mente.  O caminho do sadomasoquismo psicológico é longo, frio e persistente mais principalmente ardiloso na observância dos sinais durante o percurso da estrada.
O grande e perigoso desafio da dominação psicológica é trabalhar nos labirintos das percepções, emoções, sensações, intuições e sentimentos que envolvem a vida  cotidiana de cada um de nos. A ousadia da submissão é a de se abandonar nessa relação sadomasoquista com a  determinação de seguir sua essência assumindo a verdade de querer, ser e viver, enfrentando seus próprios medos e duvidas para fazer realidade o que era apenas sonhos nos pensamentos tão vastos  da mente infinda. 

O perigo é real porque os labirintos da mente agregam fragmentos de sentimentos, percepções, emoções, sensações, intuições e informações que mais parece um campo minado, que a qualquer momento pode explodir. O primeiro trabalho do dominador é  desenvolver  um tipo “transe lúcido”, quando todo o acúmulo de informações do labirinto da mente fica exposto para ser reeducado e condicionado.

Para trabalhar o que eu chamo de “transe lúcido” é necessário que  odominador(a):

  • Seja paciente:Ser paciente é um atributo essencial na dominação psicológica, nunca foi tão verdadeira a frase: “o apresado come cru e queima a língua”.  Paciência é uma virtude que parece não combinar com o ritmo frenético das nossas vidas. Vivemos o tempo do imediatismo, mas isso não funciona na relação SM psicológica. O dominador precisa ter paciência para não atropelar os processos naturais de evolução em desvendar os mistérios da mente e deixar as coisas consolidarem.  Para tudo há um tempo, o que significa que entre a concepção de uma idéia ou de um empreendimento até a sua completude e realização deverá haver o necessário tempo de gestação. Entre o criar, o realizar, o fazer e a obtenção dos resultados pretendidos há que se ter paciência. A paciência produz a necessária serenidade para aceitar os fatos nem como "bons", nem como "maus", mas antes como o desdobramento natural da vida. Esta aceitação liberta-nos para entender que cerca de 90% das ofertas de submissão que recebemos são sugestões fantasiosas de um desejo e não realidade de uma alma submissa.

  • Desenvolver a visão da sensibilidade. É a capacidade que vai além dos olhos, muito além, enxergar com a sensibilidade é ser capaz de ver o invisível. Com essa visãopodemos ver além da visão dos sentidos, ultrapassar às medidas do tempo e espaço.  Visão que nos incita a ultrapassar as leis da vida e os limites do pensamento permitindo materializar o abstrato

  • Identificar os sinais de afinidades.A manifestação do movimento de afinidade se apresenta em tudo na vida, como por exemplo, nos grupos afins, na simpatia ou na antipatia.  Observe os sinais: gestos, posição corporal, a tonalidade da voz, o rítimo da fala e o olhar. Por vezes, as afinidades se manifestam quase invisíveis, tal a sutileza desse sentimento que interpreta a linguagem emocional. Mesmo em ausências prolongadas, nunca deixa de se manifestar, pois independe da presença física. Mantém-se latente, como que esperando o reencontro. Quando existem afinidades as pessoas se sentem, se percebem mesmo à distância. Não há como explicar, pois é uma comunhão total de emoções e percepções. E não precisam ter necessidade de explicação para o que estão sentindo. Basta um olhar para o outro e perceber o que ele quer, ou deseja dizer.

  •  Ter atitude. Isto significa realizar os movimentos, não esperar que o submisso manifeste iniciativa.   Ter atitude não significa ser bom ou ruim, ter atitude é ser autêntico, sincero, verdadeiro consigo mesmo e com o submisso(a); não usar de subterfúgios para prolongar o que não será. É usar a intuição no primeiro momento; é ter firmeza sobre o que diz e sobre o que vai fazer; é ser rápido no raciocínio, frieza emocional  e usar sensibilidade intuitiva  nas decisões.

  •  Interpretação da realidade.É necessário estar atento aos sinais e saber interpretá-los. Pois muitos sinais podem ser ambíguos, e temos que ter clareza sobre os nossos critérios de interpretação da realidade. Não podemos cair na armadilha da “desatenção” no meio das preocupações e barulho, para que os nossos corações continuem “sensíveis” aos sinais sutis que a vida fornece. A interpretação da realidade é uma tarefa que demanda demasiado raciocínio a respeito de um complexo contexto de realidade, haja vista o deslocamento dos valores em relação ao grupo social ao qual esta interpretação é solicitada.

  • Estimular.Isso é dar estímulos para mente submissa com a mesma freqüência que estimule os desejos mais íntimos e exclusivos que expressam as emoções e personalidade da natureza submissa adormecida que só será despertada com os estímulos certos naquele exato momento de modorra do sono.

  • Alterar as referências da realidade. Todas as pessoas fazem suas reflexões tendo como base as referencias da sua realidade que são pontos constantes e estáticos que padroniza o comportamento e o estilo de vida. È fundamental alterar os pontos de referencia da realidade da mente provocando pequenas alterações no comportamento, mondado os pontos de referencia da realidade, ou seja, o desejo passa ser o agente da realidade e não mais os olhos ou os valores culturais e familiares.
O motor que movimenta o sadomasoquismo psicológico é o principio da autoridade. Alguém precisa exercer autoridade e a outra pessoa necessariamente precisa reconhecer a autoridade de quem exerce o poder da dominação.
 Algumas pessoas confundem autoridade com autoritarismo e submissão com simples obediência. Tentarei conceituar o que é autoridade e o que é submissão dentro de uma perspectiva sadomasoquista psicológica.         
  • A autoridade é reconhecidade fora para dentro, ou seja, o submisso(a)  reconhece a autoridade do dominador(a) . Quem domina com autoridade e não pela imposição, mas pela credibilidade que é transmitida com firmeza, clareza e determinação sem remorsos ou flexibilidade. Ter autoridade significa possuir a "capacidade ou habilidade" de exercer o poder sobre a outra pessoa, em graus diversos de controle e disciplina. Autoridade é também o poder de decisão sobre o submisso(a), isso significa que o sub reconhece inteligentemente que tem autonomia para escolher o que quer, mas que a sua escolha  pode ser ou não realizada, uma vez que o seu desejo está condicionado a decisão do dominador que exerce autoridade sobre ele.

  • Submissão é muito mais que simples obediência é o abandono consciente, astuto e audacioso nos desígnios da autoridade sádica e pervertida do dominador,sem pretensão e conformando-se à vontade do dominador. Submissão é também ter a coragem de caminhar como se visse o invisível com plena consciência da dor de sua natureza e dos riscos na estrada que está a percorrer. A submissão não quer respostas nem explicações para os labirintos da sua natureza; mas somente quer vive na verdade de sua existência e de seu ser pessoalque é o seu modo próprio de mostrar-se na realidade da sua natureza.  A submissão assume a pessoa inteira e não fica satisfeita apenas com o ato exterior em obedecer, mas requer o sacrifício da vontade pessoal e o abandono da própria capacidade de julgar.  Isso é o máximo da liberdade é a libertação de si mesma. A submissão sente-se verdadeiramente libertada de si mesma, pois fica totalmente submetida a seus mestres; qualquer dúvida ou escrúpulo seria considerado como folha vergonhosa.

Existe aqui o grande paradoxo da submissão psicológica porque ao mesmo tempo em que a submissa é escrava do seu Sr, ela  está livre.  A obediência inteligente e autodeterminada é o máximo da liberdade, uma libertação da escravidão de si mesma. A submissão  se lança no domínio de seu Sr como se fosse devota da humilhação e do sofrimento , obedecendo a cada impulso, qual uma bola de cera que pode ser modelada e atirada em qualquer direção; se permite manipular e ser movida pelos ardis do dominador. A plena felicidade do dominador é quando a submissa chega afirmar  ver o preto como branco, se o dominador assim determinar.

Um simples ponto de vista.

Dom Resende

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